seicentos e sessenta e seis
Seiscentos e Sessenta e Seis
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas: há tempo...
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre, sempre em frente...
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
O poeta principia por tentar definir o significado da vida. A palavra “casa”, empregada metaforicamente, abre a possibilidade de o ser humano ter sido colocado neste mundo, com deveres a cumprir, com obrigações que deve tentar saber objetivar. Ao cogitar esses questionamentos do ser, o poeta perpassa o tempo numa gradação, “seis horas”, “sexta-feira” e “sessenta anos”, alusão ao título proposto. A palavra “quando”, usada repetidamente, ao iniciar os versos segundo, terceiro e quarto, parece advertir para a fugacidade do tempo, resguardando, no entanto, a proporcionalidade. O poeta, ao escolher esse enunciado para o poema, reporta-se à simbologia bíblica e identifica-o como o símbolo secreto do mal. O mal seria, para o poeta e para toda a humanidade, a passagem irreversível das horas, dos dias e dos anos.
Mario Quintana
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